Ansiedade: O Medo Do Futuro


Por Sandra Regina da Luz Inácio
Às vezes encaramos o tempo como um inimigo, mas é ele que nos permite usufruir a vida, que nos dá a chance preciosa de crescer e desenvolver nosso corpo, mente e espírito. “Ainda que o nosso tempo por fim se esgotará, que a vida terminará e que as nossas oportunidades se acabarão, mesmo assim terá sido o tempo que permitiu o desenrolar das nossas vidas".
Mas geralmente pensamos ter tempo de sobra, por isso adiamos as coisas "para amanhã" ou o desperdiçamos com pessoas, pensamentos, situações e atitudes improdutivas. "Não seríamos nunca assim tão descuidados ao emprestar nosso dinheiro, especialmente se soubéssemos que jamais o teríamos de volta".
Somos movidos pelo desejo; este nos hipnotiza e nos desequilibra. O desequilíbrio momentâneo pode funcionar como mola propulsora, mas às vezes não reencontramos o caminho do meio, oscilando entre extremos, num exercício de fortalecimento da ansiedade. Muitos de nós não distinguimos com clareza os objetos do nosso prazer, colocando-os cada vez mais distantes. Alguns colecionam dinheiro por hábito. Outros somam projetos e preocupações simplesmente porque não sabem como se divertir. E existem ainda os que edificam sintomas e doenças por nunca saberem estar presentes no exato momento, local e hora em que a vida acontece. Ansiedade, estresse. Coisas "naturais" da civilização moderna.
A antecipação do sofrimento é coisa de "gente civilizada". É imprescindível sofrer por não saber (fruto da ignorância) ou por não conseguir separar-se de alguém ou de alguma coisa - fruto do apego - ante uma situação real. Mas sofrimento criado nos recônditos da nossa mente, pela poderosa ação transformadora de nossos pensamentos negativos é, sem dúvida, estupidez e perda de tempo. Se somos capazes de imaginar a dor e a tristeza, podemos usar nossas "câmeras mentais" para prever cenas de saúde e prosperidade. Somos roteiristas, diretores, iluminadores, maquiadores e protagonistas das histórias que criamos e tornamos reais em nossas vidas. Pois que estas sejam "mentiras úteis" e que nos estimulem para ações produtivas.
Desejamos coisas que ouvimos dizer serem boas ou mesmo ideais para nós; muitas delas julgamos ser inatingíveis, e nos frustramos pela simples idéia de não sermos capazes de conseguir algo que nem ao certo sabemos o que é, ou se realmente se presta às nossas necessidades.
Muita energia é gasta em torno do que não vai dar certo. Generalizamos experiências ruins do passado como as únicas do nosso repertório de lembranças. Eliminamos as coisas boas ou distorcemos os momentos de felicidade associando-os a "coisas terríveis" que vieram depois. Não somos preparados para viver o presente. Você é um bom estudante porque tem de ser um bom profissional... no futuro. Seja bom filho, assim será, futuramente, um marido e pai exemplares. O desejo é sempre colocado adiante - e nós correndo atrás dele - nessa pantomima que aprendemos a encenar como se fosse "vida real". A felicidade está no futuro e este nunca chega, porque sempre é adiado para amanhã.
Preocupar-se, que mecanismo é esse? Que sintomas são despertados a partir da pré-ocupação de nossa mente e coração com coisas e pessoas que nunca foram e não sabemos ao certo se serão? É bom lembrar que, para o bem e para o mal, o cérebro não distingue a realidade do que não é real. Assim, o ansioso provoca em seu corpo as reações que teria de fato diante da situação verdadeira, mesmo que a "tragédia" ocorra apenas na sua imaginação. A partir de um fato hipotético, muitos sintomas desagradáveis podem ser disparados pela ansiedade.
O processo fisiológico que provoca o estado de ansiedade é semelhante ao que é acionado quando sentimos medo: hormônios estimulantes são liberados na corrente sangüínea, fazendo o coração bater mais rápido e dirigindo o fluxo para onde ele é mais necessário. Geralmente o suprimento de sangue diminui para a pele e o abdômen, aumentando para os músculos. Dentre os distúrbios mais comuns apontados por terapeutas que consideram a psicossomática, a ansiedade pode provocar aborto, amnésia, anorexia, apendicite, asfixia, azia, câimbras, cólicas, diarréia, disfunções do apetite, da bexiga, enfisema, enjôo, esterilidade, frigidez, gastrite, hemorróidas, impotência sexual masculina, indigestão, insônia, mal de Parkinson, miopia, náuseas, obesidade, paralisia, problemas de pele, problemas na parte inferior das pernas, problemas respiratórios, úlceras, urticária. Precisa mais?
A prova mais cabal de que a ansiedade não presta pra nada é que ela não contribui minimamente para que consigamos atingir o resultado almejado. Convido-o agora a relembrar um momento da sua vida em que você experimentou um estado de ansiedade; reflita sobre como as coisas se desenrolaram: em algum momento a ansiedade trouxe qualquer tipo de contribuição para que você chegasse ao resultado final desejado? Na verdade, o seu cliente vai assinar -ou não- aquele contrato importante quer você passe o fim de semana jogando tênis, quer fique roendo as unhas. Pense nisso toda vez que sua âncora de ansiedade disparar.
A ANSIEDADE CONTAGIA
A ansiedade é contagiosa. Não quer isto dizer que passa de uma pessoa a outra, e sim que ela passa de uma área mental para outra, na forma de ansiedade deslocada. A ansiedade é como o medo, mas não o medo que sentimos diante de um perigo evidente. É um sentimento vago de incapacidade de evitar alguma coisa que ainda não ocorreu ou de não sabermos lidar com ela; neste processo, imaginamos o pior, sentimos um temor que é incapacitante e pode levar ao pânico. Para os outros, nossa ansiedade pode parecer irreal e talvez tola, enquanto que a ansiedade deles parece real e justificada.Uma forma de terapia consiste em desenterrar as raízes ou causas específicas da ansiedade. Um terapeuta competente pode nos ajudar a reestruturar nosso modo de pensar relativo a essas causas e desenvolver uma atitude mais positiva, como o pensamento positivo aplicado as nossas crenças ou suspeitas particulares, criadoras da ansiedade.
Uma forma de terapia considera a ansiedade como uma reação ou hábito adquirido que pode ser modificado ou suplantado através de uma orientação adequada. Isto implica autodisciplina para a obtenção de uma atitude mais relaxada com relação aos acontecimentos da vida - o aprendizado gradativo de tolerar dificuldades sem reagir com ansiedade. De certo modo, isto quer dizer que aprendemos a nos reconciliar com a ansiedade.
Há mais coisas que você pode fazer em suas atividades diárias para ajudá-lo a lidar com a ansiedade. Separe suas atividades, e ao passar de uma atividade para outra, de uma área de atenção para outra, faça uma pausa e permita à mente que deixe de pensar em qualquer assunto. Mantenha a mente vazia por alguns instantes. Melhor ainda, relaxe e tente um breve contato ou Harmonização Cósmica, mesmo que não tome consciência de que o contato ocorreu.
De tempos a tempos, quando você verificar que há uma melodia em sua mente em vez de ansiedade, saberá que o processo está em andamento. Você não precisa ficar condenado à ansiedade. A alegria e a segurança são as heranças daqueles que aprendem a reconhecer e reafirmar sua inata ligação com o poder Universal, espiritual.
PONTOS A PONDERAR:
1. A ansiedade é um mecanismo normal de proteção que nos chama a atenção para pararmos, olharmos e ouvirmos, para então continuarmos a caminhar com mais percepção.
2. A ansiedade nos avisa que não estamos prestando suficiente atenção. Ao agirmos sem plena percepção das coisas, reduzindo nossa consciência a uma máquina, o que nos desumaniza.
3. Assim como precisamos ver e ouvir o perigo externo com nossos sentidos objetivos, também precisamos olhar nosso interior, com os olhos e os ouvidos da mente.
4. As lições a serem aprendidas, a compreensão a alcançar, será incompleta sem a experiência da participação na vida. A ansiedade não desaparecerá a não ser após participarmos da vida consciente e perceptivamente.
5. Aceite o fato de que tudo que você está experimentando agora, agradável e desagradável, só bem mais tarde poderá ser reconhecido como um apoio no processo de alcançar seu próprio objetivo na vida.
ENFRENTANDO A ANSIEDADE
Chegar em casa a tempo para o jantar; conseguir pagar a prestação da TV em cores; os problemas do filho na escola; e esse trânsito que não anda.
Preocupações como essas podem nos ocorrer a qualquer hora e em qualquer situação. Aparentemente elas não passam de momentâneas dorzinhas de cabeça que, de uma forma ou de outra, acabamos resolvendo. Mas o esforço que fazemos para eliminá-las, por menor que seja, vai contribuir para aumentar a nossa ansiedade.
Fisiologicamente, a ansiedade resulta de um aumento da atividade nervosa, principalmente da parte do sistema nervoso que regula o funcionamento dos órgãos internos. Em geral, há um ligeiro aumento da quantidade de adrenalina no sangue, a pressão arterial sobe, aceleram-se as batidas do coração. A respiração fica mais profunda e irregular; a boca resseca; a pessoa empalidece e sua.
Muitas vezes, os músculos perdem a firmeza e nota-se certo tremor. A excitação nervosa pode também provocar mudanças bruscas no funcionamento do intestino e causar outras perturbações fisiológicas (dores de estômago, indisposição generalizada, etc.). Quando a ansiedade persiste, surgem ainda tensão e inquietação; o sono e o apetite podem ser profundamente afetados.
A pessoa que sofre de ansiedade prolongada se habitua tanto com essas alterações que chega até a "esperá-las". A ansiedade chega então a tal nível que a pessoa fica sempre com medo de estar sofrendo de alguma doença verdadeira.
Essa obsessão pelo sofrimento pode deprimi-la a ponto de prejudicar sua iniciativa e capacidade de concentração. O cansaço e a confusão psicológica às vezes levam a um tipo bastante comum de fuga: a pessoa passa a se sentir "inválida".
Em alguns casos extremos, qualquer acontecimento pode desencadear no indivíduo ansioso uma reação emocional crônica e complexa; a incerteza, o pavor e a agitação mental tomam conta de todos os seus pensamentos e marcam todas as suas ações.
Nesses casos, é indispensável recorrer à assistência médica especializada, pois a pessoa já desenvolveu o que Freud denominou "neurose de ansiedade". Qualquer fator adverso - o medo provocado pela possível perda do emprego, a tristeza causada pela morte de uma pessoa querida, a insegurança que se segue ao fim de um romance - pode gerar uma grave crise, sempre com conseqüências de ordem psicológica.
Os indivíduos que sofrem permanentemente desse processo de angústia são chamados de "ansiosos crônicos". Eles são vítimas de tendências hereditárias para distúrbios nervosos quanto de outras influências do meio familiar.
Há ansiosos crônicos de ambos os sexos, mas a maioria (numa proporção de dois a três para um) constitui-se de mulheres. E não é fácil explicar por quê.
Pesquisas recentes revelam ainda que a agitação das grandes cidades provoca um número muito maior de neuroses de ansiedade do que a vida sossegada dos pequenos centros (principalmente das zonas rurais).
Por outro lado, a ansiedade crônica pode fazer também com que a pessoa apresente um grau considerável de vigor e produtividade. Isso acontece, na maioria dos casos, com pessoas que têm uma atividade mental acima do normal. Acredita-se que, nelas, uma parte do cérebro desenvolva uma atividade mais acentuada que em outros indivíduos. Essa hiperatividade provocaria um número muito maior de "estímulos" nas células do cérebro, fazendo-as exagerar sua "interpretação" de situações angustiosas.
Para tais pessoas, então, acontecimentos corriqueiros acabariam se convertendo em verdadeiros pesadelos diários. Para controlar a ação desses estímulos exagerados é necessário um tratamento rigoroso, com repouso completo e bloqueio, por meio de drogas apropriadas, da atividade das células responsáveis pelo excesso de atividade cerebral.
Já se sabe há muito tempo que certas condições orgânicas podem causar ansiedade. Infecções agudas como a pneumonia e a gripe e alguns traumatismos (principalmente da cabeça) às vezes desencadeiam crises de ansiedade. Em muitos casos, a pessoa se queixa de doenças como essas mas, na verdade, está ocultando problemas emocionais. E o tratamento só terá êxito se o médico identificar as causas ocultas da alteração orgânica.
A ansiedade crônica costuma aparecer quando somos submetidos constantemente a qualquer fator que provoque ou aumente nossa ansiedade habitual. Mas, os candidatos a "ansiosos crônicos" possuem traços de personalidade que revelam sua tendência nesse sentido: são inseguros, não acreditam que possam realizar determinadas tarefas, vivem tensos e preocupados, queixam-se de um "complexo de inferioridade".
Essas pessoas exageram os sintomas físicos que em geral resultam de sua ansiedade. Chegam até a desenvolvê-los de verdade, como um meio de se aliviarem psicologicamente. Tornam-se assim, preocupadas demais com a saúde física e com freqüência se queixam de alguma doença sem importância, ou até não manifestada no organismo.
É assim que elas desviam a atenção das verdadeiras raízes de sua ansiedade. Queixam-se de nervosismo, cansaço e insônia, mas, na verdade, estão submetidas a um processo de neurastenia, ou seja, de "fraqueza nervosa". De fato, o neurastênico reclama que é incapaz de manter uma atividade normal e se declara permanentemente exausto. E é assim que a neurastenia pode incapacitar as pessoas: ela lhes fornece um pretexto para disfarçar sua ansiedade.
Se o número de doentes continuarem a aumentar, a ansiedade aguda e a ansiedade crônica deixarão de constituir "anormalidades" nas sociedades desenvolvidas. E, ironicamente, enquanto muito se fala de "segurança" social e política, os indivíduos (membros dessas sociedades) se tornam cada vez mais inseguros.